quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Um sinal.

Sou fragmentos, estilhaços de espelho quebrado cravados no teu peito. Lembrança da guerra, do sangue, da miséria no registro da tua vida, o aço, o ferro, a lâmina e a navalha cortando as direções como o vulto que tu enxerga em delírio no meio no quarto, bem no meio, na carne, na alma. O coração que esguicha sangue, que molha o véu, a nostalgia da infância massacrante, revoltante. A vontade de vomitar, o enjoo, a repulsa, eu sou a ferida no osso, o miolo da flor despedaçada, o voo desastrado, o buraco na nuvem e o cinza do céu, o vento que bate no teu rosto, a comida que você rejeita, o compromisso que você não lembra, o coração que você ignora.
Enquanto eu tento me aproximar só um pouco pra sentir a tua pele ou ver o teu rosto, você é a mão que me empurra, a onda que me afoga, o concreto que me esmaga, a falta que me sobra, a situação que me desgasta, a lixa áspera no meu corpo, a corda na minha garganta, a lama que me suja, o chicote que me corta, a causa que me arde, a fome na minha boca, o ronco no meu estômago, a porta que bate na minha cara, a soda que pinga na minha pele.
Um sinal, por favor dá um sinal, só um sinal por menor que seja, pra eu acreditar que não devo desistir e persistir em ti, em nós.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Confissão...


Primeiro te encontrar.
Te encontrar e finalmente escutar sua voz, ouvir você reclamar, olhar a cor dos seus olhos bem de perto e sentir seu cheiro de longe. Sentir vontade de te abraçar, mas não fazê-lo se você achar estranho mas te levar pra ver o pôr do sol. Conversar de novo e escutar músicas legais, poder deitar a minha cabeça na sua barriga ouvindo seu estômago roncar. E comer.
Olhar você comer e ficar te olhando, imaginar que talvez você não quisesse que eu te olhasse e parar. Ficar com vergonha. Deixar você me por pra dormir e sentir seu cheiro de perto, te abraçar forte.
Sentir cócegas na minha bochecha com a sua barba, dizer que amo sua barba, suspirar. Amar o jeito que você respira e suspirar de novo. Escutar você chamar meu nome e sorrir, porque eu adoro o tom que você usa quando fala comigo. Adoro.
Ficar sozinha e esperar outra pessoa para conversar, e contar o quanto eu gosto de ficar com você, ficar sozinha de novo, fechar meus olhos e te buscar na minha mente. Recordar a maciez das tuas mãos e tentar manter a calma enquanto eu lembro de como minha mão esquenta quando você segura.
Abrir os olhos e te ver do meu lado, olhar no fundo dos teus olhos escuros. Olhos enormes, com um olhar calmo e sincero que responde todas as minhas perguntas em silêncio, sentindo um frio na nuca causada pelo medo de ver você ausente. Prestar atenção quando você estiver sério, tirar os pés do chão quando você estiver distraído, opinar quando você tiver dúvidas, te aconselhar quando você pedir, e te abraçar de novo. Forte.
Mesmo que você não queira, mesmo que você insista em afastar meus braços do seu corpo e sentir suas lágrimas na minha pele. Perceber que você está calmo e colocar você pra dormir. Cantar as músicas que você escuta, e ouvir você pedindo pra eu ficar quieta, usar suas roupas e prender seu cheiro em mim.
Te ver sorrir quando eu falar que me importo com você. Te ver sorrir quando eu não falar. Imaginar que você acha isso tudo muito infantil e achar que você imagina uma mulher em mim.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aqueles olhos.

Entrei no quarto, fechei a porta. Mas aquele enorme espelho na parede...tentei não olhar, tive medo, talvez vergonha. Passei, mas não resisti, voltei e olhei, olhei no fundo de meus olhos, em silêncio. Não sei dizer bem certo quanto tempo perdi ali mas não foi pouco. Me encarei, não piscava, não pensava, não falava, apenas respirava. A respiração calma, tão leve, Deus, era como se estivesse flutuando. Mas não, eu não estava. Continuei olhando firmemente bem no fundo de meus olhos e o resto desbotou, desapareceu, simplesmente como um brinquedo perde a graça quando é quebrado. Foi então que percebi o quão tristes eles são, tão fundos, escuros, sinceros e tristes, tão tristes. Senti pena de meus olhos, não do que eu de fato sentia, não de mim, nem da vergonha, nem de minhas atitudes desleixadas e obsoletas. Tentei pensar em algo que me fizesse sentir tristeza, nada. Tentei pensar em algo que aconteceu, nada. Apenas meus olhos tristes e profundos no reflexo do espelho, talvez devesse ser assim mesmo, mas sem lágrimas, sem um pouco de alegria, extremamente notáveis e tristes. Apenas tristes.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desejo...

É penetrar na mente, no raciocínio, na calmaria e na tempestade, penetrar no peito, na vontade, no excesso e na saudade, penetrar na pele, no extremo, na célula e na carne.
Desejando penetrar...penetrando com desejo. Sentindo em cada parte, cada pedaço de matéria que falta, desvendar a parte de ti que sobra em mim, que grita na essência de meu ser e silencia em minha plenitude.
É penetrar em palavras, emoções, no exemplo e na prática, na habilidade e no comodismo. Penetrar na voz e na atenção, no tocar e no sentir, provocando e sentindo o arrepio, e assim penetrar em mim, penetrar em nós. Na imensidão e vastidão de cada significado até o osso.

sábado, 14 de agosto de 2010

...de você!

Os murmúrios mais parecem vozes agudas dentro do meu ouvido quando meu tímpano pede socorro. A recordação da tua voz se resume a algo distante, é como esperar que todas as folhas permaneçam nos galhos secos das árvores em pleno outono e as possibilidades de esquecer o que senti são mínimas e até mesmo inexistentes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Na garganta

O que sei é que mesmo sendo banalizado é algo que se sente, sente forte quando a batida é ligeira. No meu peito não existe sentimento e as gotas de sangue ardem.
E saber que é preciso guardar aqui dentro, é preciso te guardar dentro de mim assim como os medos e segredos presos na garganta.
Eu, talvez perdida em um reino de tristeza recebo esse dom diretamente de ti sem que tu perceba, desvendado pela minha alma.
Fica, fica aqui, fica em mim, fica por mim, fica sem querer, fica sem saber, fica sem ser, sem entender...apenas fica.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Escondendo.

Mesmo que eu não saiba sorrir
Mesmo sem a experiência
Sem poder revelar o segredo no momento em que te vejo
Falsamente escondendo meu desejo
Desejo enorme te querendo com um beijo
Lembro tua voz, lembro teu cheiro
E ainda te quero por inteiro.